Quando vale a pena falar de revolução? Uma crise econômica é suficiente para que essa palavra se consolide nas conversas, informais ou não? É curioso, mas em alguns momentos históricos, os chamados "processos de tomada de consciência" ficam mais visíveis. São aqueles instantes em que as tensões atingem uma espécie de ponto de saturação, produzindo eventos que mudam a ordem das coisas. Alguns episódios da história brasileira foram mais eficientes para gerar essa saturação. Por exemplo, quando o sistema colonial português deu sinais de esgotamento, já não foi mais possível esconder que a "revolução" estava bem perto. Porém, qual revolução? Ela mudaria o quê, exatamente? O simples surgir de certos conceitos, inclusive o de revolução, são indicadores que lembram uma panela de pressão prestes a explodir. A questão é captar, no movimento da História, o exato momento em que a válvula dessa panela apita. Nessa hora, conservadores e revolucionários se dividem.
Na história brasileira, os conservadores geralmente foram mais hábeis em captar os sinais da "válvula" da panela e controlaram o rumo das mudanças. Esses momentos sensíveis sempre foram objeto de atenção do historiador Carlos Guilherme Mota, professor aposentado de História Contemporânea da USP. Em A Ideia de Revolução no Brasil e Outras Ideias, publicado pela Editora Globo, foi reeditada a tese de mestrado de Mota, defendida na USP em 1967, junto a vários novos estudos da Revolução Nordestina de 1817, sobre os projetos de José Bonifácio de Andrada e Silva, escrito em 1999, sobre a formação das ideias no Brasil entre 1817 e 1850, este de 2006, além de uma análise das influências do marquês de Pombal na fundação do Império brasileiro, entre 1750 e 1831, escrito em 2007. Esses trabalhos são desdobramentos, pensados ao longo de quatro décadas, da interpretação original sobre formas de pensamento no Brasil em situações-limite.
O perfil que toma o espírito de mudança na sociedade brasileira é o fio condutor desses textos. O ponto de partida está na expressão de Vilhena (um professor de grego em Salvador no século 18), sobre o drama do "viver em colônias". Vilhena notou que a "lógica da propriedade" estava na origem da construção da consciência contra as dificuldades desse viver em colônias. A ideia de "nacionalismo" se confundiu com essa lógica e nela se misturou o conceito de "revolução", quando o sistema colonial perdeu sustentação. Nas Minas Gerais, uma economia diferente, longe do litoral, gerou outra concepção das coisas e do mundo, reafirmou Mota. Uma "revolução" nascia desse outro modo de pensar e não motivada pelo atraso ou pelas condições sociais. Essa revolução era assunto de donos de terra e comerciantes, com alguns agregados, caso de Tiradentes. Escravos, nem pensar. Ocorreram exceções nessa dinâmica antimetrópole, como a Revolta dos Alfaiates na Bahia, em 1798, uma "rebelião de pardos", ou em Pernambuco em 1817. A rigor, Mota não esquece a frase de Caio Prado Jr., de final de vida, para quem "toda a história do Brasil sempre foi um negócio".
O mundo pós Revolução Francesa e pós Revolução Industrial inglesa foram fatores externos que promoveram a "internacionalização do Brasil". Ideias liberais? Mota reafirma que muitas dessas ideias eram "amortecidas" no ambiente colonial porque nele, "a vontade é a do que mais pode". Sublevações negras até ocorriam mas não se misturavam com essa ideia de revolução. Até porque, os intelectuais, leitores dos "princípios franceses", eram muito receosos do fim do braço escravo.
A Ideia de Revolução no Brasil
Carlos Guilherme Mota
Editora Globo
domingo, 28 de novembro de 2010
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