Por que votarei em José Serra
por Daniel Bushatsky *
Poderia dizer por que não vou votar na Dilma com um argumento singelo e sem defesa para uma candidata a presidente: sou contra quem assina documento sem ler; poderia argumentar pelo voto contrário a ela pautado em um argumento geopolítico (chique isso, não?): sou contra todos que Chávez apóia; ou mesmo poderia afirmar e o Lula desmentir: sou contra eleger para a presidência quem não possui experiência alguma em cargos eletivos.
Também poderia dizer que não vou votar na Dilma porque ela não é carismática. Mas se esta for a razão, estou ferrado. Não poderei votar em seus outros dois concorrentes diretos, também.
Mas qualquer um desses argumentos seria meia verdade!
Uma das razões por que não vou votar em Dilma é a mesma pela qual não vou votar em Marina: gosto de alternância de poder. Acho saudável diferentes pontos de vista governarem. Para mim, este é ponto fundamental da democracia.
Marina nunca terá poder. Quem tem poder é quem tem na mão a câmara dos vereadores e deputados. Ela não tem. É só ver a quantidade de minutos que ela terá no horário eleitoral da TV. Míseros 2 minutos e 21 segundos. Ela seria um fantoche no governo e somente conseguiria algum resultado abrindo enormes concessões.
Serra não! Ele tem partido e se quiser governar não adianta só ser turrão. Terá que se submeter ao PSDB e seus caciques e índios, que, por sua vez, parecem ter limites mais éticos do que os do PT. Nada de pautar a mídia, por exemplo.
Fora isso, o PSDB está fora do primeiro cargo da hierarquia executiva brasileira há 8 anos, e se tivesse sido tão ruim o governo do FHC, imagino que o Lula não teria seguido suas políticas econômicas — adotadas ainda antes das eleições de 2002, com a “Carta ao Povo Brasileiro”.
Mas não é só o gosto pela alternância de poder que me fará votar em Serra. É também sua coerência. Quase engenheiro pela USP, se não fosse o golpe militar e o exílio. Ou seja, lutou contra a ditadura. Mestre em economia pela Universidade do Chile e doutor na mesma matéria pela Cornell University, nos EUA.
Primeira coerência: sempre estudou (muito)!
Serra começou na militância estudantil, chegando a ser presidente da União Nacional dos Estudantes, em 1963. Elegeu-se duas vezes deputado federal, foi prefeito da cidade de São Paulo (tentou 3 vezes), governador do estado e ministro da saúde.
Segunda coerência: persistência política; não desiste fácil do que quer e sempre quer o topo.
Mas ainda não acabaram as coerências. Falta uma que poucos políticos podem afirmar que sabem o que é ou se realmente existe. A fidelidade partidária. Serra está no PSDB desde 1988. São 22 anos no mesmo partido!
Agora questiono: como posso não votar nele? Sei o que me espera. Pode ter suas falhas, mas jogue a primeira pedra quem não tiver.
Serra é o único candidato com chance de ganhar as eleições que tem sua história avalizada pela credibilidade. A credibilidade, por sua vez, é avalizada pela coerência.
Eu, então, posso avalizar este voto.
* Daniel Bushatsky, São Paulo-SP, é advogado e colunista do Digestivo Cultural.
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