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domingo, 11 de abril de 2010

HOMENAGEM A IVO RODRIGUES - VOCALISTA DA BANDA BLINDAGEM





O corpo de Ivo Rodrigues Jr., vocalista da banda Blindagem, foi sepultado por volta das 17h50 horas desta sexta-feira (9) no Cemitério Municipal de Curitiba. O músico, de 61 anos, morreu na noite de quinta-feira (8) no Hospital de Clínicas, vítima de uma parada cardiorrespiratória decorrente de complicações em função de um câncer.


Centenas de pessoas, entre familiares, amigos, parceiros da música e admiradores, acompanharam enterro. Durante o sepultamento, os fãs cantaram músicas do grupo. O músico também recebeu homenagem de vários motoclubes da cidade e de torcedores do Coritiba, time do coração de Ivo.
Segundo a assessoria de imprensa do músico, há um mês a equipe médica que o acompanhava detectou um tumor no canal da uretra do músico, mas o câncer já estava em estágio avançado. Em julho do ano passado, ele foi submetido a um transplante de fígado, em razão de uma cirrose hepática. Ivo era casado e deixa dois filhos.
História
Ivo nasceu em Porto Alegre (RS), mas com três anos de idade se mudou para Curitiba com a família. O músico assumiu o vocal da banda Blindagem em 1969, uma das mais tradicionais do Paraná. Além de se manter por três décadas nos microfones da banda, o vocalista também se notabilizou por manter sólida parceria com o poeta curitibano Paulo Leminski.
O contato com a música começou cedo, com a participação de programas de auditórios em rádios e em programas de calouros na televisão. Em 1966, foi eleito o melhor cantor do Sul do Brasil, conquistando o “Troféu Barra Limpa”, em um programa apresentado por Júlio Rosemberg na TV Paranaense. Com isso, ganhou como prêmio um programa de duas horas, o “Juventude Alegria”, que passou a ser transmitido na emissora nas tardes de sábado.
Na Blindagem, participou de momentos históricos para o rock paranaense. Com um som agressivo e performático, variando do lírico ao pesado, a banda participou de festivais memoráveis, como o de Águas Claras. Entre os momentos mais importantes do grupo, a banda foi a responsável pela montagem do legendário espetáculo Rocky Horror Show, em 1982.
O primeiro disco foi gravado em 1981, pela Continental, com o título “Blindagem”. No mesmo ano, a banda lançou dois compactos. Em 1983, vieram mais dois compactos, com as músicas “Malandrinha” e “Me provoque pra ver”. Outro single foi lançado em 1985, pela Polygram, com a música “Operário Padrão”. O outro LP, “Cara x Coroa”, foi lançado de maneira independente em 1987.
Os trabalhos da banda tiveram reedições e versões em CD. O novo disco foi lançado em 1997, com o título “Dias Incertos”. Em junho de 2008, a Blindagem lançou seu DVD “Rock em Concerto – Banda Blindagem e Orquestra Sinfônica do Paraná”, gravado ao vivo na primeira apresentação do Rock em Concerto, em setembro de 2007.
Futebol
Apaixonado por futebol, Ivo era coxa branca. Em 2001, o Globo Esporte conversou com a banda que entre os integrantes tem torcedores do Coritiba e do Atlético. (veja o vídeo) Ele relembrou os momentos mais emocionantes dos clube e o grupo pediu paz entre as torcidas.
Parceiros
Orlando Azevedo fez parte da A Chave, que, nos anos 60, convidou Ivo para cantar. Juntos eles iniciaram o que Azevedo classifica como "um período perturbador do underground curitibano". Foi no único CD da Chave que foram gravadas as primeiras letras escritas com participação de Paulo Leminski. Azevedo classificou Ivo como uma das maiores vozes da música paranaense, e que sua morte será uma grande ausência na cena do rock estadual.
O músico Fabio Elias, vocalista de outra banda paranaense, RelesPública, afirmou que Ivo foi uma grande influência em toda a sua carreira musical. "O Ivo era uma figura única, com uma voz única. E espero que sua trajetória e história sirva de exemplo para todos os músicos paranaenses que lutam para continuar fazendo música mesmo sem ser um grande sucesso", afirmou.
Ele destaca que, apesar do estilo de vida nem sempre muito saudável, Ivo não era um marginal da música paranaense, apesar de não ter tido o sucesso que almejava. Era um músico que viveu ao máximo o rock and roll, e que seu talento deveria ter sido bem mais reconhecido. "Que isso sirva de lição para aprendermos a valorizar nossos músicos antes de suas mortes".
Mensagens
Amigos e admiradores de Ivo estão enviando mensagens de despedida ao cantor de várias cidades paranaenses. Um deles é o Atila, que escreveu estar triste com a perda e agradeceu o músico por sua obra. “Acredito que sua inconfundível voz rouca ecoará pelo celeste para o sempre. Obrigado pelas canções”.
Já Miguel Koteski, disse que o Ivo é a síntese do verdadeiro artista. “Vivendo intensamente cada minuto da sua vida colocando o coração naquilo que tão bem fazia”, escreveu.
Os fãs também homenagearam o músico com mensagens no microblog Twitter. Muitos admiradores usaram letras das músicas escritas por Ivo para se despedir, entre elas a canção Gaivota.


As vozes que anunciam as estações do Ligeirinho e do Biarticulado estão mais tristes. A voz que grita “Borboleta 13” na Rua XV está mais triste. Até as irritantes vozes amplificadas de farmácias e lojas populares parecem mais tristes. A voz do elevador anuncia os andares quase chorando. Curitiba perdeu "A" voz. A principal voz do rock curitibano não canta mais. Ivo Rodrigues, a voz que fez o rock nascer em Curitiba, morreu.Foram 40 anos fazendo o povo cantar e sorrir com suas histórias alegres e malucas. Foi ele que abriu a chave para a entrada do rock na cidade e depois cercou-o com uma blindagem para que ninguém o roubasse. E o rock curitibano cresceu forte e teve inúmeros filhos.

Em alguma noite perdida na virada dos anos 70 para os 80, um adolescente imberbe presenciou em noites frias curitibanas ao mesmo tempo o fim da banda A Chave e o nascimento da Blindagem. Com alguns outros nomes de bandas pelo meio do caminho – até um incrível “Movimento Parado” – e um elo: Ivo Rodrigues. No início dos novos tempos, na transiçção de um para o outro uma atração musical era anunciada em cartazes como Ivo e Blindagem, o que já mostra o prestígio do cantor.

A Chave e a Blindagem são como lado A e lado B do mesmo LP (Long Play, um disco de vinil, para os mais novinhos). A Chave foi o início do rock curitibano, banda que fez sucesso aqui e no Rio de Janeiro (então a capital cultural do Brasil, nos anos 70), mas só gravou um compacto. Divergências naturais entre jovens criativos ligados ao sexo, drogas e rock’n’roll fizeram a banda dar um tempo. Não sem antes ficar marcada definitivamente na história musical paranaense.

Depois, veio a Blindagem, banda que está em atuação até hoje e qualquer pessoa com um mínimo de informação musical curitibana sabe de sua história. Ivo e Paulo Teixeira (guitarra) são os remanescentes da Chave no Blindagem. A banda nasceu poderosa fazendo shows em ginásios e festivais, dividindo o palco com grandes nomes da época, como Casa das Máquinas, Bixo da Seda, Tutti Frutti, entre outros.

Ivo levou para a Blindagem não apenas sua voz estrondosa, elástica e um tanto rouca. Também levou as composições em parceria com Paulo Leminski que foi, por um tempo, uma espécie de reserva de luxo, tanto da Chave quanto da Blindagem. Tempos criativos, em que a música não se isolava como arte, juntava-se a outras formas de expressão, como a poesia, as artes plásticas e o teatro. Dessa união nasceram dezenas de apresentações do Rock Horror Show, concepção do diretor Antonio Carlos Kraide, no Teatro Guaíra, um espetáculo roqueiro e anárquico que misturava música e teatro.

Na sequência, a banda fez apresentações em vários estados do país, lançou discos por grandes gravadoras e a história continuou. A banda, talvez pela primeira vez no Brasil, uniu bem o rock e o sertanejo, em parcerias de Ivo e Leminski que são cantadas até hoje. Foi a banda paranaense mais ativa no cenário nacional nos anos 80, anos que marcaram o fortalecimento do rock nacional.

Tudo isso seria possível sem o carisma e a voz de Ivo Rodrigues?

Não vou falar aqui de toda a carreira do Blindagem que até deve continuar, mesmo sem Ivo. Os trágicos últimos anos de sofrimento vieram preparando a banda para esta nova transição e a ela desejo boa sorte na caminhada.

Nos últimos anos, os excessos vinham cobrando sua conta do fígado de Ivo. Há dois, ele passou pelo processo de falência do fígado, resolvido com um bem sucedido transplante. No início deste ano, foi descoberto um câncer que atacou o rim do cantor. Foram dois meses de sofrimento para ele e a família. Deixa continuidade na música, pois o filho Ivan é um excelente baterista.

Mesmo passando por momentos difíceis e doloridos, Ivo nunca deixou de cantar. Ignorava recomendações médicas e aparecia de surpresa em shows em bares até quando aguentou. Já nesta última fase de sofrimento mais agudo, arrumava forças para cantar até no hospital, como relatou o filho Ivan, em um post no Twitter nesta semana.

Na noite desta quinta-feira, Curitiba perdeu “A” voz. Mas as canções de Ivo Rodrigues permanecerão para sempre.

O momento é triste, mas Ivo sempre foi uma pessoa alegre. Por isso deixo espaço para que amigos e admiradores contem aqui algumas das histórias incríveis de Ivo. Eu começo e vocês continuam.

Nos anos 80, no antigo Bar Bife Sujo, um guitarrista local que costumava “morder” os amigos, pedindo sempre um dinheirinho aqui e ali, se queixava para o Ivo que a vida estava difícil e que ele não tinha dinheiro nem para comer, que estava com fome. Ivo ouviu a história toda e, conhecedor da fama do amigo, disse que iria resolver a situação. Pediu para o guitarrista voltar ao bar no dia seguinte, que ele iria ajudar. No dia seguinte, no mesmo bar, o guitarrista esperava e Ivo apareceu. Então para resolver o problema da “fome” o cantor entregou ao amigo a solução: um moderador de apetite, que ele comprou na farmácia em frente.

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